As Mídias Sociais Agora São um Sistema de Alerta DIY para Operações da ICE

A Coalizão pelos Direitos Humanos dos Imigrantes de Los Angeles (Chirla) estima que, nos últimos dias, cerca de 300 migrantes foram detidos na Califórnia como parte de operações realizadas pelo Departamento de Imigração e Controle de Alfândegas (ICE), em cumprimento a uma ordem emitida pela administração Trump.

Esse número é baseado em relatórios colaborativos compilados pela Rede de Resposta Rápida, uma aliança composta por dezenas de organizações que apoiam migrantes e disseminam informações sobre detenções e operações de imigração.

Angelica Salas, diretora da Chirla, descreveu as detenções como um fenômeno “nunca visto antes” nos três décadas em que defende comunidades migrantes, de acordo com declarações publicadas pelo Los Angeles Times.

Jorge Mario Cabrera, porta-voz da mesma organização, disse à agência de notícias EFE que a maioria dos detidos não são criminosos, “como o governo dos EUA tentou retratá-los”. Ele indicou que a maioria dos presos são trabalhadores de Los Angeles, embora detenções também tenham sido documentadas em outras partes do estado.

Em meio a intensos protestos contra as políticas de imigração de Trump, espera-se que essas operações continuem em Los Angeles por pelo menos 30 dias, de acordo com a representante dos EUA Nanette Barragan, citando dados fornecidos pela Casa Branca. Da mesma forma, uma escalada dessas ações é antecipada em todo o país, após a administração anunciar seu objetivo de realizar até 3.000 prisões por dia.

Várias organizações de direitos dos migrantes alertaram sobre possíveis violações do devido processo das pessoas alvo do ICE. Elas denunciaram o ICE por restringir o acesso a detidos em várias ocasiões, o que poderia limitar seu direito a uma representação legal adequada.

Observando o ICE

Essa situação gerou preocupação entre a população indocumentada, a maioria deles de origem hispânica, o que intensificou o uso de redes sociais para alertar as pessoas sobre a presença de agentes de imigração em diferentes regiões dos EUA.

Em uma busca realizada pela equipe do WIRED en Español, vários grupos e páginas foram identificados em plataformas digitais dedicadas a receber, verificar e disseminar relatórios sobre pontos de verificação, patrulhas e operações do ICE. A origem desses perfis é diversa: alguns são gerenciados por organizações não governamentais conhecidas e coletivos de ativistas, enquanto outros foram criados por membros privados da comunidade migrante.

A família de um homem apreendido por agentes do ICE exige que a vítima seja devolvida.

Alertas sobre operações são disseminados através de mensagens diretas, WhatsApp ou postagens no feed de cada página. Por sua vez, é possível relatar anonimamente a presença de agentes de imigração através de mensagens de texto privadas ou chamadas para números de telefone específicos.

Em geral, os usuários são solicitados a fornecer dados básicos, como hora, data, cidade, estado e localização exata da operação, além de fotografias ou vídeos quando possível documentá-los. Além de emitir alertas em tempo real, muitas dessas páginas oferecem orientação legal gratuita, não apenas sobre questões de migração, mas também sobre direitos trabalhistas, acesso à saúde, educação e outros serviços essenciais.

Algumas das redes ativas nesse trabalho incluem:

Union del Barrio California

Esta organização pro-imigrante de base mantém uma presença ativa no Facebook. Ela realiza patrulhas comunitárias para detectar o movimento do ICE, compartilha alertas urgentes e organiza oficinas sobre direitos legais.

Chirla

Com atividade constante no Facebook e outras plataformas, a Chirla publica notificações sobre operações de imigração, fornece aconselhamento jurídico e convoca mobilizações cidadãs diante de novas detenções.

Stop ICE Raids Alert Network

Essa rede distribui alertas de emergência e oferece assistência a pessoas afetadas por operações do ICE. Além de suas contas nas redes sociais, tem uma página da web que permite que as pessoas recebam notificações geolocalizadas em tempo real.

Siembra NC

Esta organização opera principalmente na Carolina do Norte. Através de sua página no Facebook, promove uma linha direta para denunciantes (336-543-0353). Embora seu foco esteja nos condados de Alamance, Durham, Forsyth, Guilford, Orange, Wake, Randolph e Rockingham, tem uma presença em todo o estado da Carolina do Norte.

RadarSafe

Este projeto usa o Protocolo de Alerta Comum (CAP), um sistema para enviar alertas digitais de emergência, para fornecer informações seguras sobre paradas e operações de imigração. Ele também publica relatórios enviados pela comunidade e verifica informações com o apoio dos residentes locais.

Inmigración y Visas

Focado em questões de imigração, este portal oferece um canal no WhatsApp onde os usuários podem relatar detenções, trocar experiências e receber conselhos. Também compartilha conteúdo informativo em sua página do Facebook e site.

SignalSafe

Adicionando a essa rede de assistência está o SignalSafe, um aplicativo criado por uma equipe de desenvolvedores anônimos que fornece alertas em tempo real sobre a atividade do ICE. Através de relatórios colaborativos, o aplicativo mapeia avistamentos de agentes federais e veículos não identificados, permitindo que migrantes evitem pontos de verificação potenciais.

Desde o retorno de Trump à presidência, o SignalSafe ganhou ampla popularidade. A ferramenta permite a integração de vários filtros com base na localização do usuário, tipo de atividade das autoridades de imigração e intervalo de tempo.

Essa plataforma é alimentada por relatórios de cidadãos, que são verificados por um grupo de moderadores especializados. O sistema é bilíngue, com suporte para espanhol e inglês, e possui protocolos de segurança avançados para ajudar a proteger a privacidade do usuário.

Acesso Chave

Dada a crescente quantidade de detenções nos Estados Unidos e a falta de certeza sobre a segurança daqueles detidos nessas operações, exemplos como os acima mostram que alguns setores da cidadania parecem ter assumido um papel ativo em espaços digitais contra a implementação de políticas de imigração.

Nesse contexto, o uso generalizado de redes sociais entre a comunidade migrante transformou essas plataformas em ferramentas-chave dentro do movimento de resistência. De acordo com dados da Organização Internacional para as Migrações, em 2023, 64% dos migrantes em trânsito pela América Central, México e República Dominicana—maioritariamente com destino aos Estados Unidos—tinham acesso a um smartphone e conexão à internet durante sua jornada. Desses, 47% dos homens e 35% das mulheres usaram esses dispositivos para acessar redes sociais.

Fonte

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